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Conto enviado por Marina Silva - Curitiba - Paraná
A rotina da vida de Jorge era muito cansativa. Levantava-se todos os dias, por volta das 3 horas da manhã, almoçava às 8, jantava as 17 e dormia às 20. Não tinha inverno ou verão nem domingo nem feriados.
Várias vezes Jorge pensou em mudar de vida. Mas não dava. O trabalho de feirante já estava no sangue e tinha sido responsável por todo o conforto que ele propiciava à sua família . Afinal, manter dois filhos na faculdade não era fácil para uma família de classe média. Tanto Jorge quanto Maria, sua mulher, haviam decidido dar aos seus filhos a educação que não tiveram. Não havia arrependimento pois seus filhos eram estudiosos,obedientes e muito carinhosos com os pais. Valia o sacrifício!
Esta rotina só era quebrada pelas duas gatinhas vira-latas que a família criava e que faziam a maior festa para Jorge quando ele chegava cansado da feira.
Uma chamava-se Samantha, toda marrom, e a outra era Ratinha, toda preta com patas brancas. O apelido de Ratinha era “meias brancas”. As duas eram eternas companheiras de brincadeiras e disputavam o carinho de Jorge.
Num daqueles dias poeirentos do verão, quando Jorge chegou da feira observou que as duas gatinhas pareciam prenhas o que mais tarde foi confirmado pelo veterinário.
As duas haviam engravidado na mesma época e teriam seus filhotes bem próximos uma da outra.
Numa 4a. feira, voltando para casa Jorge viu Ratinha deitada e cercada por algumas bolinhas peludas. Ela tinha dado à luz aos seus filhotinhos. Dois eram completamente pretos, um cinza e uma exatamente da cor de Ratinha. Preta com patas brancas.
Ratinha demonstrava ser uma mãe bem carinhosa, sempre perto dos filhotes, alimentando-os com seu leite e lavando-os criteriosamente.
Jorge ficava enlevado vendo Ratinha ser tão eficiente no papel de mãe e ao mesmo tempo em que começou a observar que Samantha estava ficando meio estranha em relação à sua companheira. Miava e se arrepiava para os filhotes de Ratinha e várias vezes Jorge flagrou-a mordiscando os pequeninos. Resolveu consultar o veterinário para obter uma explicação e ficou sabendo que algumas gatas prenhas desenvolvem a síndrome de psicose gestacional. No caso de Samantha, devido ao atraso do seu parto, ela havia começado a se perturbar com os filhotes de sua amiga.
Jorge ficou um pouco preocupado e resolveu ficar atento a essa situação inusitada. Um dia, voltando da feira, ficou surpreso em não encontrar os filhotes de Ratinha e achar Samantha muito nervosa e agressiva. Parecia meio doida. Meu Deus! Será?
O veterinário já o havia alertado que às vezes a gata com esse tipo de psicose elimina os filhotes de sua rival.
Jorge ficou nervoso. Numa atitude rápida resolveu que não ficaria com uma gata com instintos tão agressivos. Telefonou para seu pai, contou a história, colocou Samantha na caixinha de transporte e levou-a para a casa do seu pai, que morava em Mangaratiba.
Voltando para casa meio cabisbaixo, percebeu que Ratinha rondava a caixa do marcador de água, miando bem baixo e meio ressabiada. Resolver averiguar, pois várias vezes já havia encontrado alguns escorpiões na caixa. Qual foi a sua surpresa ao achar os 4 filhotes lá dentro.
Ratinha, com a percepção de um perigo iminente para sua cria resolveu escondê-la na caixa do hidrante. Naturalmente alguém da casa fechou a porta e Ratinha ficou sem acesso aos seus filhos.
Jorge ficou espantado com a atitude inteligente e protetora de Ratinha e ao mesmo tempo desolado diante da lembrança da atitude precipitada que havia tomado em relação à Samantha.
Cheio de remorsos, pensou em ir à Mangaratiba pegar Samantha mas pensou: - se fosse verdade que o gato era um animal tão sensível, ele achava que Samantha não ia perdoa-lo por ter sido rejeitada.
Era melhor deixa-la com seu pai e acrescentar esse episódio como mais uma experiência na sua vida.
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